Blog Preparador de Goleiros
Mauro Machado

Histórias

A MILHA EXTRA

Todos os clubes que passei sempre tentei explicar para os meus dirigidos que nesta posição não existem atalhos, que o treinamento diário e a atenção aos pequenos detalhes e correções poderiam fazer com que eles conseguissem alcançar sua melhor versão. O trabalho contínuo e silencioso é o que prepara muitos goleiros para o momento da oportunidade, para poderem responder à altura no dia do “vamo vê”. A maioria deles entende a mensagem e se prepara para esse dia que poderia ser amanhã, ou dentro de alguns anos. O goleiro é o jogador que mais trabalha, embora muitas vezes os outros jogadores ficam dizendo que temos que correr, que não fazemos nada… não sabem de nada! Somos os primeiros a entrar no campo e os últimos a sair, estamos sempre dispostos a defender mais uma. A maioria dos trabalhos são feitos para que os jogadores façam gols, as vezes é covardia, mas tudo bem, nós colocamos os peitos para as balas e vamos indo assim meio na contra-mão. Meus pequenos exércitos estão acostumados a “matar um leão por dia” e a literalmente “comer a grama”. É sempre importante que eles estejam convencidos que esse é o caminho e que a “milha extra” é sempre dar um pouco mais, é treinar muito focado, sempre buscando a excelência. Fazendo assim não te dará a certeza de que no jogo tu vais defender aquela bola impossível, mas se não fizer assim “ja era”, é gol. A oportunidade, muitas vezes, aparece quando menos se espera, por isso devemos estar sempre alerta, treinando forte e 100% pronto. Na minha grande chance eu estava pronto fisicamente embora a parte mental ainda estava em processo. Foi uma oportunidade ímpar na minha carreira, estava com 26 anos e teria um amistoso que definiría o meu futuro. Antes do jogo eu não sabía que iría jogar, o treinador Wilfredo Camacho me avisou minutos antes da partida no estadio Hernando Siles de La Paz… me disse: “Mauro, tu vas a jugar. Si te va bien, firmamos tu contrato mañana, si te va mal no necesitas venir más a partir de mañana.” Não era uma situação extrema de “vida ou morte”, era muito mais que isso porque para chegar até ali havia viajado em duas ocasiões 4 dias por terra (Porto Alegre - La Paz e Buenos Aires - La Paz), havia passado fome e frio, havia enfrentado mil e um desafíos e adversidades que ao longo do caminho foram me tornando mais forte, tudo isso me fez estar pronto para aquela ocasião. Tive um grande jogo, embora aquela falha na primeira bola quase virou gol, o diálogo interno foi duro comigo mesmo: “Tu esperaste 3 anos para chegar até aqui e deixar passar “o cavalo encilhado? Não né!?” Então eu fui em todas as bolas, todas mesmo! E o mais legal é que cheguei em todas elas, ganhamos 2 a 0, no dia seguinte estava assinando meu primeiro contrato na Liga Boliviana.
Não tenho dúvidas que a milha extra é o caminho que te deixa pronto para a grande oportunidade, mesmo porque tu não tens uma segunda chance de causar uma primeira grande impressão. E isso não vale só para o futebol, vale para qualquer tipo de profissão. O segredo está em trabalhar como se fosse para Deus, dando o teu melhor em cada treino, em cada bola… sem atalhos!

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