Existe uma frase em Español famosa no mundo dos goleiros que diz: “El Portero nace o se hace?” Acredito que todos nós nascemos com um dom, mas se não nos dedicamos e melhoramos, estaríamos desperdiçando essa habilidade que Deus nos deu. Eu posso dizer que nasci goleiro… isso porque meu pai era goleiro e desde cedo ele me incentivou a evitar os gols, quando todos os meus amigos e inclusive meu irmão Márcio queriam era fazer os gols. Falando no meu brother, que foi meu primeiro treinador, lembro que ficávamos jogando bola na frente de casa, ele chutando, eu defendendo, o pai nos acompanhava, me corrigia, me animava, dizia para eu ir em todas. Ele via algo em mim e comentava: “O Mauro é louco, vai ser goleiro, vai dar certo!” E não é que deu mesmo!? Lembro que em muitos jogos pelo G.E. Continente, onde tudo começou, que não via o pai, mas ele estava por lá escondido me observando. Depois dos jogos ía pra casa e ele me perguntava: “E aí, como foi o jogo?” - Ah pai, foi bom, ganhamos 3 a 1. “Como foi o gol que tu levou?” - Um cruzamento, gol de cabeça… “E aquela bola que tu não pegou firme?” - Muito vento pai, não deu. “Eu acho que dava hein!? Tem que treinar mais… faz ali ó, 100 chutes na parede e pega ela firme.” E eu ía, e se fizesse 98 e dizia que tinha terminado… nada disso! Ele retrucava: “Faltam duas!” Putz… ele tava contando as bolas. Mário Chiclé, meu maior mentor, ele sim sabía os segredos e os atalhos para defender uma meta, me acompanhou até que Deus o chamou naquela madrugada do dia 12/06/2011. :( Acredito que me tornei goleiro mesmo ao longo dos anos em base a muito trabalho e dedicação, desde cedo entendi que para ser profissional teria que comer a grama todos os dias, aprendi que não existem atalhos, não para aqueles destinados a defender a meta e os espaços atrás da linha defensiva. Com o passar dos anos foi acontecendo aquilo que o pai sempre dizia: “Depois de alguns anos tu vais ir antecipando tudo, antes da jogada acontecer tu ja vais intuir, vai saber os atalhos, vai chegar antes.” Não falo de adivinhar, falo de antecipar, de ler a jogada antes mesmo que ela aconteça. O velho sabía muito, se estivesse aqui me ajudaria demais com a organização dos treinos e os exercícios. Quando pendurei as luvas em dezembro de 2013 recebi a proposta de seguir vinculado ao meu ultimo clube como preparador de goleiros, aceitei prontamente, passei a estudar e aprender mais e mais sobre cada detalhe da posição… Nessa nova etapa da minha vida trabalhando com meus pequenos exércitos só tenho palavras de agradecimento, porque todos os meus “guapos” treinaram, e muito, por tratar de fazerem as melhores versões de si mesmos… em cada treino e em cada jogo o mínimo que deram sempre foi o seu máximo! Conclusão: Nasci goleiro por escolha do meu pai que queria realizar em mim o sonho dele que depois foi nosso. Mas o trabalho diário, a dedicação e o amor pelo que faço foram os fatores que me tornaram goleiro e depois preparador de goleiros. “É goleira sem grama, bola ruim, abrigo rasgado, luva furada. Nunca foi fácil, não pra mim! Mas Deus é fiel, não foi eu, foi Ele!”