Blog Preparador de Goleiros
Mauro Machado
Histórias
O GOLEIRO REATIVO/PROATIVO
No princípio o goleiro era o responsável de defender a balisa e ele se esforçava para que a bola não entrasse. Era ele e a balisa à suas costas… ficava ali protegendo, cuidando dela, sendo assim era um goleiro reativo porque reagia a todas as bolas que tinham destino de rede. Depois vieram algumas mudanças nas regras e o goleiro passou a ter outras funções, tais como: defender a balisa (como sempre), mas também os espaços atrás da linha defensiva e a ser um jogador mais quando seu time tinha a posse de bola, passou a ser um goleiro proativo.
Quando comecei a defender no gol eu era um goleiro totalmente reativo, um “goleiro raíz” mesmo que dava a vida para que a bola não entrasse na sua meta. Meu posicionamento era de trás para frente, inclusive nos cruzamentos, estava mais preocupado com a minha goleira do que sair numa bola aérea, ficava sempre mais próximo da linha de meta. Os treinos nos preparavam para isso e, embora muitas vezes chegávamos bem cansados nos jogos (pela excesso de carga e volume dos treinos), respondíamos algumas vezes corretamente, outras nem tanto. A maioria dos goleiros da minha época tinham essas mesmas características. Era nós e a balisa, a balisa e nós.
No principio dos anos 90 houve uma mudança na regra do futebol, a FIFA buscava jogos mais atrativos e o recuo para o goleiro que podía pegar as bolas vindas de um companheiro com as mãos era algo que deixava o jogo sem graça. Não tinham idéia do bem que estavam fazendo ao futebol e também aos goleiros porque isso deu um giro de 360 graus na preparação dos futuros guarda-redes e esse foi o ponto de partida para os goleiros proativos, que buscavam solucionar futuros problemas antes mesmo que eles acontecessem. As demandas, antes mais simples, agora são diferentes e os jovens goleiros estão cada vez mais arrojados, com uma grande capacidade cognitiva e não ficam lá atrás esperando os problemas chegarem, eles se aventuram a jogar bem adiantados e resolver os “pepinos” antes mesmo que eles aconteçam. Na atualidade uma das maiores escolas de goleiros proativos é a Alemanha que depois do Mundial 2002 com Oliver Khan e 2006 com Jens Lehmann (Goleiros Reativos) resolveu apostar pela mudança na preparação e hoje em dia conta com grandes goleiros proativos como: Manuel Neuer, Marc-Andre ter Stegen, Bernd Leno, Kevin Trapp, entre outros, que são fiéis exemplos para futuras gerações.
No futebol atual temos espaço tanto para os goleiros reativos como para os proativos porque depende um pouco da intenção tática do treinador. Vemos a um reativo como Jan Oblak do Atletico de Madrid/Seleção da Eslovenia defendendo muito e da mesma forma um proativo como Ter Stegen do Barcelona/Seleção da Alemanha fechando a meta. Não muitos goleiros são como Thibaut Courtois do Real Madrid/Seleção da Bélgica que passam de ser reativos a proativos, mas o trabalho continuo, as correções e a atenção aos pequenos detalhes podem fazer essa grande mudança na atuação dos goleiros. Estamos em constante evolução e a posição ainda tem muito por progredir e melhorar.